Os modos gregos são uma ferramenta fascinante e poderosa para músicos explorarem novas sonoridades e expandirem sua expressão musical.
Há séculos músicos utilizam essas escalas modais para buscarem inspiração e organizar seus pensamentos. Conhecer os modos gregos ajuda não só a possuir mais ferramentas para composições e improvisações, mas também fornece base para estudo de técnica e conhecimento do instrumento.
Neste artigo, vamos mergulhar no mundo dos modos gregos, desde sua origem na Grécia antiga até sua aplicação prática na guitarra e baixo.
O Que São Modos Gregos?
Os modos gregos são uma série de escalas derivadas do sistema de escalas da música antiga grega. Cada modo começa em uma nota diferente da escala diatônica e possui suas próprias características sonoras únicas.
Embora o termo “modo” possa soar um pouco técnico, ele se refere simplesmente a uma organização específica de sons dentro de uma escala. É na verdade uma forma de se pensar, muito útil principalmente aos instrumentos de corda como guitarra e baixo, pois conhecendo todos os modos e seus desenhos é possível visualizar as notas da escala na extensão completa do braço.
Ao compreender e dominar esses modos, os músicos também podem adicionar uma riqueza tonal e uma variedade de emoções às suas composições e improvisações. É um assunto complexo, necessita muito estudo e prática, portanto para completo domínio dessa área recomendamos o seguinte curso:
Toque de forma sofisticada dominando os Modos Gregos na harmonia e improvisação.
Um Pouco de História
Os modos gregos remontam à Grécia antiga, onde eram usados como base para a composição e performance de música. Originalmente, esses modos eram chamados pelos nomes das tribos da Grécia antiga onde eram populares. Ao longo do tempo, os modos gregos foram adotados e adaptados pela música ocidental, tornando-se uma parte fundamental do repertório musical.
Durante a Idade Média, os modos gregos foram adotados pela Igreja Católica e se tornaram a base da música sacra. A Igreja padronizou o uso dos modos, estabelecendo regras e diretrizes para sua utilização.
Com o Renascimento, a música começou a se tornar mais complexa e harmoniosa. Os modos gregos continuaram sendo utilizados, mas foram gradualmente sendo substituídos pelas escalas maiores e menores que conhecemos hoje.
Fórmula Intervalar e Intervalo Característico
Imagine a escala musical como uma sequência de notas, cada uma a uma determinada distância da anterior. Essa distância entre duas notas é chamada de intervalo. A fórmula intervalar de um modo nada mais é do que a descrição exata da sequência desses intervalos.
Por exemplo:
- Modo Jônico (escala maior): T-T-ST-T-T-T-ST
- T: Tom (um passo inteiro na escala)
- ST: Semitom (meio passo na escala)
Essa fórmula nos diz que, no modo jônico, após a primeira nota, temos um tom, outro tom, um semitom, e assim por diante. Essa sequência específica de tons e semitons é o que define a sonoridade do modo jônico e o diferencia dos outros modos.
Já o intervalo característico de um modo é um intervalo que o distingue dos outros modos e contribui para sua sonoridade única. Cada modo maior vai diferir do modo Jônio (modo maior principal) em um intervalo, e cada modo menor vai diferir do modo Eólio (Modo menor principal) também em um intervalo.
Os Sete Modos Gregos e Suas Características
Jônio (Modo Maior):
Começa na primeira nota da escala maior. Possui um som brilhante e alegre, com uma sensação de estabilidade e resolução.
- Fórmula Intervalar: T-T-ST-T-T-T-ST
- Classificação: Modo Maior
- Intervalo Característico: É o modo fundamental maior e não possui intervalo característico.
Segue o desenho de três notas por corda desse modo para guitarra/baixo:
Dórico:
Começa na segunda nota da escala maior. Tem um som melancólico e introspectivo, frequentemente associado ao blues e ao rock.
- Fórmula Intervalar: T-ST-T-T-T-ST-T
- Classificação: Modo Menor
- Intervalo Característico: 6ª Maior em relação ao modo Eólio
Segue o desenho de três notas por corda desse modo para guitarra/baixo:
Frígio:
Começa na terceira nota da escala maior. Possui uma sonoridade exótica e misteriosa, frequentemente usada em estilos musicais como flamenco e metal.
- Fórmula Intervalar: ST-T-T-T-ST-T-T
- Classificação: Modo Menor
- Intervalo Característico: 2ª Menor em relação ao modo Eólio
Segue o desenho de três notas por corda desse modo para guitarra/baixo:
Lídio:
Começa na quarta nota da escala maior. Tem um som luminoso e otimista, com uma sensação de leveza e elevação.
- Fórmula Intervalar: T-T-T-ST-T-T-ST
- Classificação: Modo Maior
- Intervalo Característico: 4ª Aumentada em relação ao modo Jônio
Segue o desenho de três notas por corda desse modo para guitarra/baixo:
Mixolídio:
Começa na quinta nota da escala maior. Possui um som marcante e energético, frequentemente usado em músicas com uma vibração bluesy e rock ‘n’ roll.
- Fórmula Intervalar: T-T-ST-T-T-ST-T
- Classificação: Modo Maior
- Intervalo Característico: 7ª Menor em relação ao modo Jônio
Segue o desenho de três notas por corda desse modo para guitarra/baixo:
Eólio (Modo Menor Natural):
Começa na sexta nota da escala maior. Tem um som sombrio e emotivo, frequentemente associado ao sentimento de melancolia e introspecção.
- Fórmula Intervalar: T-ST-T-T-ST-T-T
- Classificação: Modo Menor
- Intervalo Característico: É o modo fundamental menor e não possui intervalo característico.
Segue o desenho de três notas por corda desse modo para guitarra/baixo:
Lócrio:
Começa na sétima nota da escala maior. Possui uma sonoridade dissonante e instável, sendo menos comum em comparação com outros modos.
- Fórmula Intervalar: ST-T-T-ST-T-T-T
- Classificação: Modo Diminuto
- Intervalo Característico: 2ª Menor e 5ª Diminuta em relação ao modo Eólio.
Segue o desenho de três notas por corda desse modo para guitarra/baixo:
Tabela Resumida de Modos:
Modo | Fórmula Intervalar | Intervalo Característico | Classificação | Sonoridade |
---|---|---|---|---|
Jônio | T-T-ST-T-T-T-ST | — | Maior | Alegre, brilhante, equilibrado |
Dórico | T-ST-T-T-T-ST-T | 6ª Maior | Menor | Levemente sombrio, jazzy, funk |
Frígio | ST-T-T-T-ST-T-T | 2ª Menor | Menor | Exótico, flamenco, oriental |
Lídio | T-T-T-ST-T-T-ST | 4ª Aumentada | Maior | Flutuante, sonhador, misterioso |
Mixolídio | T-T-ST-T-T-ST-T | 7ª Menor | Maior | Alegre, mas menos estável, bluesy |
Eólio | T-ST-T-T-ST-T-T | — | Menor | Sombrio, melancólico, clássico menor |
Lócrio | ST-T-T-ST-T-T-T | 2ª Menor e 5ª Diminuta | Diminuto | Tenso, desestabilizador, dissonante |
Aplicando os Modos Gregos à Guitarra e Baixo
Agora que entendemos os modos gregos e suas características, vamos explorar como aplicá-los à guitarra e baixo:
- Familiarize-se com os Padrões de Escalas: Para começar, aprenda os padrões de escalas para cada modo grego no instrumento. Isso envolve memorizar o desenho de cada modo e praticá-los em diferentes posições no braço.
- Experimente em Diferentes Contextos Musicais: Uma vez que você esteja confortável com os padrões de escalas, experimente aplicar os modos gregos em diferentes contextos musicais. Tente improvisar sobre progressões de acordes usando diferentes modos para explorar suas sonoridades únicas.
- Transcreva e Estude Solos de Guitarristas Profissionais: Estude solos de músicos profissionais em diferentes estilos musicais e observe como eles incorporam os modos gregos em suas improvisações. O estudo de como outros artistas abordaram os modos nos ajuda a desenvolver nossa própria voz no instrumento.
- Crie suas Próprias Composições: Por fim, experimente criar suas próprias frases e licks usando os modos gregos. Experimente diferentes progressões de acordes e melódias para explorar as possibilidades criativas dos modos e desenvolver seu próprio estilo musical único.
Nesse vídeo, o guitarrista e youtuber Roger Franco dá dicas para um melhor entendimento e aplicação dos modos gregos, pensando na sonoridade dos mesmos:
Conclusão
Os modos gregos são uma ferramenta poderosa para guitarristas e baixistas expandirem sua expressão musical e explorarem novas sonoridades. Ao compreender os sete modos gregos e sua aplicação prática na guitarra, os músicos podem enriquecer suas composições e improvisações, adicionando uma dimensão extra de criatividade e profundidade à sua música.